No presente curso de extensão universitária, discorrerei sobre “dicas” necessárias para que os professores possam desenvolver ações educativas, de modo que os seus alunos se sintam motivados a não apresentarem condutas de indisciplina e de bullying. Basicamente, defenderei a tese – sem desconsiderar as demais – de que, para a legitimação de condutas não violentas, é necessário ao aluno construir valores éticos e morais e diminuir a importância dada aos valores ligados à glória, ao hedonismo e ao higienismo. Para corroborar a presente tese, primeiramente, definirei termos como bullying, moral, ética e formas de glória. Em seguida, dissertarei sobre o conceito de respeito. Por fim, farei considerações com a finalidade de demonstrar como a superação da indisciplina e do bullying dependem, sobremaneira, do exercício das virtudes por meio do estabelecimento de relações interpessoais cujo norte deve ser a justiça, o respeito mútuo, a generosidade, a dignidade do ser humano e o diálogo. Acrescentarei, ainda, um aspecto pouco considerado, todavia importante para a construção de valores morais e éticos e, em consequência, para o equacionamento da indisciplina e do bullying. Refiro-me à overdose de regras que inundam as instituições escolares. Elas não são em si danosas, pois nos possibilitam a regulação de nossas condutas com outrem. Porém, como não demandam reflexão (apenas obediência), elas levam facilmente ao erro, além de não contribuírem para o desenvolvimento e/ou ao fortalecimento da lógica de pensamento reversível e da lógica de ação recíproca. Refiro-me, ainda, ao fato de os docentes buscarem ser pessoas polidas e exigirem tratamento igual, tanto dos colegas quanto dos alunos e dos seus familiares e dos demais membros da instituição escolar. A boa educação não é uma excelência moral. Todavia, é imprescindível à construção das virtudes. Para que a ética e a moral vinguem e, consequentemente, o aluno não faça uso da indisciplina e do bullying, é necessária a construção de regras e valores éticos e morais por todos. Afinal, como podemos formar filhos e alunos que tenham a não violência como norma, se pais e educadores não fazem uso do diálogo e a todo momento reafirmam a “pedagogia” da violência? A situação com os professores não é diferente. Entre outras condutas, observo a maioria a) transformar a ação educativa numa espécie de obrigação formal; b) nutrir indiferença por seus alunos e, ao atendê-los, dar preferência aos correspondentes ao modelo desejado; c) manifestar pouco interesse em compreender os motivos que levam certos aprendizes a agirem de determinado modo; d) chamar a atenção do aluno – quase sempre publicamente – e com o fito de humilhá-lo e e) buscar capacitar-se apenas com o intento de ter melhoria salarial. Por último, sugiro que, em uma sociedade marcada pelo espetáculo e pela falta de exercício da excelência moral, o espaço escolar deve funcionar como lugar de resistência às práticas violentas e de cultivo de valores favoráveis à cultura da paz. Diante do exposto, que tal iniciar a ação educativa pelo exercício da generosidade, da justiça, da prudência, do respeito mútuo e do bom humor?
Curriculum vitae: sinopse
Prof. Dr. Nelson Pedro-Silva, Psicólogo formado pela UNESP, Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP, Doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP-SP. Professor-Doutor do Departamento de Psicologia Social do Curso de Psicologia da UNESP. Especialista em várias disciplinas (Psicopedagogia, Psicologia da Aprendizagem, Psicologia do Desenvolvimento Humano, Relacionamento Humano e Psicologia Ética e Moral). Ex-Editor da Revista Vertentes – publicação científica do Departamento de Psicologia Evolutiva da UNESP. Autor dos seguintes livros: Ética, indisciplina & violência nas escolas (Vozes, 2004, 7ª ed.), As mulheres que os homens desejam (2008), Entre o púbico e o privado: ensaio sobre o valor da lealdade à palavra empenhada na contemporaneidade (Editora Unesp, 2006) e Indisciplina e bullying: soluções ao alcance de pais e professores (Vozes, 2013). Escreveu mais de 50 capítulos de livros, artigos científicos e é coautor de vários livros, dentre os quais, destaca-se Disciplina/indisciplina: ética, moral e ação do professor (Mediação, 2005, 3ª ed.) e A escola adoecida: ansiedade, depressão e síndrome de Burnout (Caravana, 2020, 1ª ed.). Ministrou, desde 1994, mais de 20 cursos de especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional, tendo elaborado grade curricular das disciplinas de tais cursos para Botucatu (SP), São Manuel (SP) e Avaré (SP). Igualmente, ministrou mais de 40 cursos de extensão universitária, atualização e aperfeiçoamento e proferiu aproximadamente 100 palestras pelo Brasil. Atualmente, dedica-se a analisar as relações interpessoais em tempos de cultura digital.
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